Nos últimos anos, o sistema financeiro brasileiro tem passado por uma transformação silenciosa, porém profunda, com a implementação do Open Finance uma iniciativa que proporcionou aos consumidores ficar no centro do sistema financeiro, oferecendo mais controle, transparência e competitividade.
No entanto, em 2024 e 2025, foi iniciada uma fase 2.0, que atualiza regras, amplia o escopo de dados e acelera a integração entre instituições. Mas o que muda na prática? O que sua empresa ou você precisa saber? Calma, que vamos te explicar, vamos lá?
Do que se trata?
Simplificando trata-se de uma evolução do sistema já existente e tem como princípio permitir que os dados financeiros de uma pessoa que pertencem a ela possam ser compartilhados com segurança entre diferentes instituições, com seu consentimento.
Isso inclui dados de: Contas bancárias, cartões de crédito, empréstimos e financiamentos, investimentos, seguros e previdência, câmbio, contas-salário e muito mais. Ou seja: você passa a ser dono de seus dados financeiros e pode levá-los para onde quiser. Na prática, isso abre caminho para ofertas mais personalizadas, menos burocracia e taxas mais competitivas.
Linha do tempo: do Open Banking ao Open Finance 2.0
- 2021–2022: Implementação do Open Banking (Fases 1 a 4)
- 2022: Expansão para o conceito de Open Finance (inclusão de seguros, investimentos etc.)
- 2023–2024: Adoção mais ampla, consolidação de APIs e integração com o Pix
- 2025: Entrada do Open Finance 2.0, com regras mais maduras e foco em interoperabilidade, consentimento simplificado e dados padronizados
O que muda?
O Open Finance 2.0 traz aperfeiçoamentos regulatórios, técnicos e operacionais com foco em usabilidade, segurança e escalabilidade.
A seguir, os principais pontos:
1. Consentimento mais simples e duradouro
Antes, os usuários precisavam renovar o consentimento de compartilhamento de dados a cada 12 meses. Agora:
- Validade pode ser estendida até 24 meses;
- Interface de consentimento está mais intuitiva e padronizada;
- Mais clareza sobre quais dados serão usados, por quanto tempo e para qual finalidade.
Impacto: Mais comodidade para o usuário e menos atrito para as empresas que dependem da coleta desses dados para ofertar serviços personalizados.
2. Melhoria na padronização das APIs
As APIs (interfaces de integração entre sistemas) passam a seguir regras mais robustas, com foco em:
- Maior interoperabilidade entre bancos, fintechs, corretoras e seguradoras;
- Redução de falhas técnicas;
- Velocidade de resposta mais alta;
- Suporte à tokenização e autenticação de múltiplos fatores.
Impacto: Experiências mais fluidas para o cliente final e mais facilidade para desenvolvedores criarem soluções seguras e integradas.
3. Expansão do escopo de dados
O Open Finance 2.0 inclui agora, de forma oficial:
- Produtos de câmbio
- Conta-salário
- Portabilidade de crédito com dados enriquecidos
- Dados agregados sobre operações de crédito e inadimplência
Impacto: As instituições terão acesso a dados mais completos, permitindo análises de crédito mais justas e acesso a crédito para perfis antes marginalizados.
4. Início da automação inteligente (Smart Finance)
Com o uso de inteligência artificial e dados abertos, começa a se consolidar o conceito de automação financeira baseada em dados autorizados.
Exemplo prático:
O cliente autoriza o compartilhamento de suas finanças e recebe ofertas automáticas de crédito com melhores taxas. A contratação pode ser feita com poucos cliques, direto no app.
Impacto: Abre espaço para soluções de robo-advisors, carteiras inteligentes, bancos digitais personalizados e pagamentos automáticos via Open Finance.
5. Mais instituições obrigadas a participar
O Banco Central ampliou o número de participantes obrigatórios. Agora, além de grandes bancos e fintechs, devem integrar o ecossistema:
- Corretoras de seguros
- Instituições de pagamento
- Sociedades de crédito direto
- Plataformas de investimento digital
- Bancos de câmbio
Impacto: O sistema se torna mais completo e competitivo, permitindo ao usuário comparar e contratar serviços em um só ambiente.
Como sua empresa pode se beneficiar?
Se você é uma empresa que oferece serviços financeiros ou usa dados financeiros para gerar valor ao cliente o Open Finance 2.0 é uma oportunidade estratégica.
Algumas aplicações práticas:
- Fintechs: oferta de crédito mais assertiva, com menos risco
- Contadores e ERPs: conciliação bancária automática e integração em tempo real
- Plataformas B2B e marketplaces: análise de crédito para fornecedores
- Startups de investimentos: construção de portfólios personalizados com base em dados reais
- SaaS de gestão financeira: visão integrada de contas, cartões, gastos e investimentos
Desafios e pontos de atenção
Apesar dos avanços, o Open Finance 2.0 traz alguns desafios:
- Segurança da informação: é preciso investir em proteção de dados e LGPD
- Integração técnica: exige times preparados e boas práticas de desenvolvimento
- Educação do consumidor: ainda é necessário explicar o conceito e gerar confiança
- Consentimento contínuo: abusos podem gerar desconfiança e baixa adesão
Empresas devem focar na transparência, usabilidade e segurança jurídica para ganhar vantagem competitiva nesse novo ecossistema.
O futuro: Open Everything
O Open Finance é apenas o começo. O mundo caminha para o Open Everything: um sistema onde dados de saúde, educação, mobilidade e governo podem ser integrados com segurança, criando uma experiência unificada para o cidadão.
No Brasil, o Banco Central é pioneiro nesse movimento. Com o Open Finance 2.0, o país se posiciona entre os líderes globais em inovação regulatória.
Em outras palavras, mais do que uma evolução técnica, essa nova função representa uma mudança de paradigma: o cliente deixa de ser refém de instituições e passa a ser protagonista da sua vida financeira.
Para consumidores, significa melhores ofertas, mais controle e menos burocracia. Para empresas, significa dados confiáveis, inovação acelerada e novos modelos de negócio e, por fim, para o Brasil, representa um sistema financeiro mais competitivo, justo e eficiente.
Se sua empresa ainda não está integrada ao ecossistema de Open Finance, este é o momento de se preparar. Comece com uma estratégia de dados clara, revise os fluxos de consentimento e busque parcerias com instituições autorizadas.